O Forex, ao contrário do que é encontrado por aí, é composto por basicamente dois seguimentos: o mercado de balcão (OTC, Over The Counter) e o mercado de bolsa (centralizado).

As moedas negociadas nesses dois ambientes possuem características semelhantes. A moeda negociada em balcão serve como o ativo subjacente para aquela negociada no mercado futuro, por isso andam praticamente juntos devido principalmente ao avanço tecnológico que fez ser possível pôr em prática um dos fundamentos da teoria clássica em finanças: os ativos de classes semelhantes devem ter o mesmo valor, não deve existir arbitragem no mercado.

“A arbitragem pode ser definida como sendo uma operação na qual o investidor visa realizar o lucro sem riscos e, preferencialmente, sem a utilização de recursos próprios. Essa prática consiste numa operação de compra e venda de um ativo visando o lucro sobre a diferença de preços do mesmo ativo em diferentes mercados.”

– Suno Research

Cada um desses mercados transaciona contratos – à vista, a termo e/ou futuro -, esses possuem características diferentes: padronização e também em formas de negociação, mas, sempre existe uma intenção (comprar ou vender) em cada interação entre os participantes.

Quando uma empresa busca fazer uma proteção (hedge) de sua operação, ela pode utilizar como condição contratual o preço à vista da moeda – EUR/USD –, e na estratégia de hedging, usar um derivativo de acordo com suas necessidades de prazo (mês ou meses) negociado no mercado futuro (E6, na Bolsa de Futuros de Chicago, CME).

Um contrato derivativo foi um tipo criado para dar ferramentas de hedge para os participantes do mercado. Ele é simplesmente um contrato padronizado, ou por uma contraparte (mercado de balcão) ou uma bolsa (mercado futuro), que depende do preço à vista para existir.

Usando o exemplo acima, o contrato futuro do Euro negociado na CME, E6, depende do preço do ativo à vista (EUR/USD), que é o ativo-objeto. Como esse derivativo tem um vencimento por padrão, a cotação ganha um acrescimento ou desconto, dependendo do diferencial de taxa de juros entre os dois países. Essa condição é conhecida como paridade coberta da taxa de juros. O diferencial, que pode ser positivo ou negativo, é chamado de “base” ou risco de base.

Com isso em mente vem a pergunta: afinal, qual é o mercado que forma o preço dessas taxas?

No mercado de Forex, tratando estritamente das moedas majors (EUR/USD, GBP/USD, USD/JPY, USD/CAD, AUD/USD, etc) é o mercado à vista que determina a cotação dos ativos no mercado futuro, pois é nele que o ativo-objeto é negociado.

Não é apenas por isso, o mercado à vista de Forex é o que tem mais liquidez (dados podem ser consultados nos relatórios do Banco de Compensação Internacional, BIS), ou seja, é nele que acontece a maior parte da atividade de negociação. Os ativos futuros desses pares, negociados na CME, tem um volume muito menor (dados podem ser consultados no site da CME).

No vídeo abaixo, é possível analisar as cotações em tempo real do Euro, negociado tanto no mercado à vista (EUR/USD) quanto no futuro (E6). Nota-se que os movimentos dos preços são relativamente idênticos em ambos os ativos.

A maior liquidez no mercado à vista do que no futuro tem implicação na eficiência desses mercados, e consequentemente, na formação das taxas de câmbio à vista e futura. De acordo com a princípio de não arbitragem da teoria das finanças, espera-se que o mercado mais líquido (no caso do Forex, o à vista) ajuste o preço do mercado menos líquido (mercado futuro).

Esse ajuste pode ser analisado utilizando a paridade coberta da taxa de juros. Na prática, com o mercado financeiro conectado eletronicamente, os HFTs (High Frequency Traders) exploram (lucram) e ajustam qualquer diferencial de precificação que aconteça nos dois mercados (à vista e futuro).

Não é o tema desse artigo, mas no Brasil, acontece o oposto – a grande liquidez do mercado futuro de Dólar, por exemplo, forma a cotação do dólar à vista – por diversos fatores particulares do mercado nacional. É o “rabo que abana o cachorro”. Em artigos futuros, abordaremos essa característica do mercado cambial brasileiro.

Com tudo isso em perspectiva, os traders de Forex podem utilizar os dados do fluxo de ordens do mercado futuro para fazer estudos e até mesmo operar o ativo à vista. Os dados de fluxo de ordens do mercado à vista não têm uma precisão aceitável, pois, não contabiliza todas as negociações do mercado de balcão. São dados somados de diversos participantes. Já no mercado futuro, os dados são mais precisos devido à centralização de todo o processo das negociações.

A assinatura do feed de dados em tempo real com o fluxo de ordens do mercado futuro de câmbio, CME, pode ser adquirida facilmente em qualquer vendor de market data ou até mesmo com corretoras de futuros, e pode ser integrado com a maioria das plataformas de mercado futuro como Ninjatrader, Sierra Chart, Jigsaw Trading, etc.

Já os dados em tempo real do mercado à vista podem ser acessados através de plataformas profissionais que fazem o “casamento” das cotações e ordens de participantes profissionais, como Reuters e Bloomberg.

O acesso para pessoas físicas é muito restritivo devido ao custo mensal dessas plataformas, que pode chegar até dez mil reais por mês. Os dados de fluxo de ordens que são fornecidos pelas corretoras de varejo de CFDs de moedas não são consolidados. São dados de ECNs, dark pools e provedores de liquidez, portanto, não podem ser utilizados para estudos ou operacional.

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